Inteligência Artificial

Será a inteligência artificial a nossa última oportunidade?

Ilustração André Carrilho

Especialistas admitem que a IA pode salvar o mundo da estagnação económica

Pedro Carreira Garcia

Com a chegada do ChatGPT, da OpenAI, e das plataformas de inteligência artificial (IA) generativa concorrentes que se seguiram, capazes de criar conteúdo em texto, imagem, som, e vídeo com base na análise do conteúdo já existente na Internet e fora dela, os economistas e analistas começaram imediatamente a tentar medir o impacto de uma tecnologia que, apesar de tudo, continua nas suas primícias; mas que, dizem, e em particular na Europa, será decisiva para assegurar a produção de riqueza e o bem-estar material das populações num futuro próximo.

Há quem já arrisque fazer previsões: num relatório do banco Goldman Sachs, de abril do ano passado, estima-se que a IA generativa poderá, até 2033, impulsionar o PIB (produto interno bruto) global em 7%, aumentar a produtividade em 1,5 pontos percentuais, e eliminar até 300 milhões de empregos a tempo inteiro, perdidos para a automação. O economista Michael Spence, prémio Nobel da Economia de 2001, num artigo publicado no site do Fundo Monetário Internacional (FMI) em setembro, nota que a IA “é a nossa melhor hipótese de aliviar as limitações do lado da oferta”, como a estagnação da produtividade, “que têm contribuído para o abrandar do crescimento, novas pressões inflacionistas, aumento do custo de capital, pressões e diminuição da margem orçamental, e desafios no cumprimento dos objetivos de sustentabilidade”.

Um estudo do próprio FMI garante, por sua vez, que a IA “deverá mudar profundamente a economia global”, calculando que 40% do emprego em todo o mundo está exposto ao impacto dos grandes modelos de linguagem. Nas economias desenvolvidas, por serem mais terciarizadas, esta percentagem sobe para cerca de 60%. O Fundo diz que o aumento da produtividade associado ao uso de IA poderá significar “mais crescimento e maiores rendimentos para todos os trabalhadores”, mas alerta que a IA pode alargar ainda mais o fosso entre os mais ricos do mundo, os chamados “1%”, e o resto da população. As políticas públicas serão chave para limitar alguns destes riscos.

A criação de riqueza e o aumento da produtividade numa sociedade envelhecida como a europeia fez com que Mario Draghi, o ex-presidente do Banco Central Europeu, dedicasse à IA grande parte do relatório com propostas para evitar o declínio da economia do Velho Continente. Para Draghi, a União Europeia já perdeu o comboio da IA, hoje concentrado em poucas empresas norte-americanas. Mas ainda pode, e deve, aproveitar as suas vantagens: o setor tecnológico europeu deve desenvolver soluções novas nestas áreas; e a indústria deverá incorporar esta tecnologia para automatizar e simplificar tarefas.